Num percurso de ida e volta devem entrar em três buracos dispostos em linha recta, saindo vencedora a criança que chegar primeiro ao buraco inicial. (Edição Revista e Aumentada)
PPMM
Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que eu quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz pricipitado.
Sophia de Mello Breyner
Happystologie III
V.
Agosto. Este papel começou há meses, nós há anos e
o meu coração tem esta verdade.
HOJE É NISSO QUE PENSO.
Volto a esta "carta acrescentada" para to dizer.
VI.
37graus... e o meu amor por ti de mão dada.
Esta casa toda com o perímetro dos teus pés nus no chão.
Fico feliz.
Alguma calma. Acordamos e quero crer que ainda haverá algumas manhãs assim.
Perco-me no que te quero dizer.
Sei que espero.
Que se respiramos alinhadamente, isso é um ritmo nosso.
Que se cabemos na esperança um do outro, isso é um ritmo nosso.
Hoje.
E passa já tanto tempo e ainda tremo antes de te ver, saio e volto e hesito e revolto e estremeço antes de te ver...tremem as estações, o sangue corre-me ao contrário, antes de te ver... isso é tão bom.
Sei que sou tua. Sinto isso. Se és meu, se "estás" meu? Penso nisso, sim, no tempo e na verdade disso, momentos há que sim...tens estado muito presente. Outras vezes não. Sei-te assim. Também não faz mal.
Crescemos juntos.
E perguntas-me como acho que me vês...e vem o medo de te cansar
- não se deve importunar os deuses.
(e saio sempre como se te fosse encontrar).
Uma 5ª feira destas enche-se-me mais o coração - disponibilizas-me o teu amor para levar, se acaso vir o meu pai - os olhos cheios de um mar inteiro.
Choro muito, aflijo-te. Tenho espaço no teu peito para isto? Sei que sim.
Convocas milhares de coisas, mundos passados, a nossa história toda...os dias tristes em que queria os teus braços para não ficar sozinha a acreditar que esta casa tem 14 assoalhadas, que não estou mesmo sozinha, com o coração numa caixa...a tremer com as tuas iniciais.
Por isso sinto os teus braços.
VII.
Ouço-te com toda a atenção.
Nos dias em que não te vejo, acredito mais em Deus.
VIII.
Na tua mão.
Os nossos beijos agora são assim... o centro da Terra.
Com toda a História.
IX.
Sabes-me tão bem.
X.
QUERO IR DAQUI CONTIGO.
(fim Out2009)
Happystologie I / II
I. Ressonância Magnífica
Gosto de ti historicamente. Através das décadas. Como de um território, queria a ocupação.
Apetece-me procurar-te. Já lá vai tempo. O meu tempo é teu. Apetece-me procurar-te as coisas que não encontras. Cozinhar-te, cozinhar para ti. Ler livros para depois me explicares. Viajar contigo, jantar contigo, estar muito longe contigo. Apetece-me que percebas que quero quase nada na vida como te quero a ti.
Que te quero a ti na vida. Que esta cama é tua. Que o meu tempo é teu.
Que este olhar, quando longe, está em 2010 ou 2037, contigo.
Na minha cabeça este papel seria prodigioso. Logo no início, falaria do primário da paixão, da cor primeira, do soco sem ar, que é o teu nome a instalar-se no meu coração.
Neste papel, dir-te-ia tudo o que seria preciso para estares ao meu lado.
Neste papel, falaria desta coisa sísmica que sinto.
Neste papel, explicava-te que há uma camada subdérmica da minha dimensão toda, com o teu nome, com o teu fazer-parte...que se torna ensurdecedora nos dias e nas noites em que não estás.
As tuas mãos.
Há uma tempestade furiosa por debaixo do meu querer, é a distância, os hiatos em que fico a gostar, silenciosa, a gostar só, e a acreditar que um dia, sou eu a dobrar os meus braços à volta do teu pescoço enquanto fumas e trabalhas sossegado, em estertor de pantufas e solidão e eu assisto e gosto mais.
Neste papel, dir-te-ia, que este tempo todo nada tem de obsessão.
É tão distante e diferente disso.
Estive a existir com o propósito de ti. Estive a ser coisas para te dizer, para te mostrar, para te ir amando, para te poder dar algum brilho que tivesse...
Estás aqui por dentro. Eu com o propósito de ti.
Penso nisto diariamente. E no medo de não sentir mais.(E em ti...)
Sigo nestas direcções todas confusamente...nos dias que és ocupação, nos dias que és desejo, nos dias que não me és, nos dias só dias, nos dias atravessada por ti , nos dias sós, nos dias só dias.
Nos dias todos que começam e acabam a amar-te, todo tu, sem duração.
(...)
Mar 09
Depois algumas coisas más, o medo de novo, os sustos, os lados frios da cama, as noites brancas, o pescoço torto da insónia, os versos todos que cabem num história assim, tanta coisa a mais, línguas a mais, roupa por passar, panos na corda, coisas ao vento... o quotidiano às vezes inerte podia pesar...sei algumas coisas de latim, tenho almoços de família, cartas de referência, dobro as meias...falo um pouco mais de três línguas, falo demais, sei capitais e alguns nomes de plantas... e tudo isto pode ser a mais.
Podia esquecer isto. Esqueço tudo. E amo-te.
Queria dizê-lo.
II.
Tu todo.
III.
Volto aqui. Preciso de te dizer tudo. É difícil estar longe. Não é quase possível.
Chicotes pelo corpo, a latejar a pele, por dentro, por fora - e se falamos ao telefone, ficam-me a dardejar bandeiras em alvoroço pelo corpo - tudo orgânico - dá-se por dentro.
Às vezes na lonjura, penso como no Shakespeare "tanto amor desperdiçado"... e olho para as minhas mãos e penso-as no teu cabelo...penso que queria andar de bicicleta contigo, tomar banho no mar contigo e fazer-te café todos os dias... todos os dias que quisesses.
E corro.
Depois escrevo-te e é um silêncio... o espaço todo sem saber como...onde...todo o mistério, mas também todo o medo de Não... de Assim-Assim...incertezas a invalidar o coração.
Nó.
Coração acelera...respiro muito pouco...e medo.
TENHO MEDO DE TE CANSAR. DE PESAR NO TEU CORAÇÃO.
IV.
Penso-me para ti. E agora há idade.
Há as falências, os cansaços. E eu a pensar que de mão dada em silêncio também está bem.
Cuidar-te. Gostava que soubesses.
O meu silêncio para juntar ao teu.
(...)
Abr/Jul 09
'são versos, meu amor, falam de ti' (II)
17 Junho, 23H, no Bar A Barraca
Luiz Gabriel Lopes é um jovem cancionista que hoje vive em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. É vocalista e um dos principais compositores do grupo Graveola e o lixo polifônico, sucesso de público e considerado pela crítica como um dos principais grupos de música independente produzida atualmente no Brasil. Tem dois albuns lançados com o grupo e recentemente lançou seu primeiro trabalho solo, o disco “Passando Portas”, composto e gravado em Lisboa entre junho e agosto de 2010. Sua música reverbera a rica tradição da música popular brasileira, além de alinhar-se também com a expressão mais recente do indie e pop, produzindo canções originais a um só tempo refinadas e comunicativas.
http://www.myspace.com/lglopes
tão perto assim
passam portas, palavras
como a imaginar a nossa casa cada vez maior
como a dizer
noutra língua mesma nossa
algo transbordado das palavras e das direções
religiosamente
o dia a dia desaguando além
e a poesia torna-se alimentação
convém lembrar:
- nossa casa é uma promessa que alivia as dores do planeta e do coração,
e a melodia que há em nós respira o dom de ser um só (em tantos nós)
quase absurdamente
sentidos musicais em comunhão
e a poesia desaguando além do chão
O Amor é de outro Reino
O amor é de outro reino. (...) Da amizade, do amor, do encontro de duas pessoas que se sentem bem uma ao lado da outra, fazendo amor, falando de amor, trocando amor, conversando de amor, falando de nada, falando de pequenas histórias código de ministros com aventuras de aventuras sem ministros conversa alta e baixa de livros e de quadros de compras e de ninharias conversas trocadas em miúdos ouvindo música sem escutar música que ajuda o amor o amor precisa de ajudas de ir às cavalitas de andas de muita coisa simples amor é um segredo que deve ser alimentado nas horas vagas alimentado nas horas de trabalho nas horas mais isoladas amor é uma ocupação de vinte e quatro horas com dois turnos pela mesma pessoa com desconfianças e descobertas com cegueiras e lumineiras amor de tocar no mais íntimo na beleza de um encanto escondido recôndito que todos no mundo fizeram pais de padres mães de bispos avós de cardeais amor agarrado intrometido de falus com prazer de alegria amor que não se sabe o que vai dar que nunca se sabe o que vai dar amor tão amor.
Ruben A.
'Silêncio para 4'
Love After Love
The time will come
when, with elation
you will greet yourself arriving
at your own door, in your own mirror
and each will smile at the other's welcome,
and say, sit here. Eat.
You will love again the stranger who was your self.
Give wine. Give bread. Give back your heart
to itself, to the stranger who has loved you
all your life, whom you ignored
for another, who knows you by heart.
Take down the love letters from the bookshelf,
the photographs, the desperate notes,
peel your own image from the mirror.
Sit. Feast on your life.
Derek Walcott
The time will come
when, with elation
you will greet yourself arriving
at your own door, in your own mirror
and each will smile at the other's welcome,
and say, sit here. Eat.
You will love again the stranger who was your self.
Give wine. Give bread. Give back your heart
to itself, to the stranger who has loved you
all your life, whom you ignored
for another, who knows you by heart.
Take down the love letters from the bookshelf,
the photographs, the desperate notes,
peel your own image from the mirror.
Sit. Feast on your life.
Derek Walcott
Colar de Contas
Por toda a parte nos resta ainda uma alegria.
A dor pura entusiasma.
Quem sobe sobre a própria miséria, está mais alto.
E é magnífico saber que só na dor sentimos bem a liberdade da alma.
Hölderlin, Hyperion
The Inner Man
It isn’t the body
That’s a stranger.
It’s someone else.
We poke the same
Ugly mug
At the world.
When I scratch
He scratches too.
There are women
Who claim to have held him.
A dog follows me about.
It might be his.
If I’m quiet, he’s quieter.
So I forget him.
Yet, as I bend down
To tie my shoelaces,
He’s standing up.
We caste a single shadow.
Whose shadow?
I’d like to say:
“He was in the beginning
And he’ll be in the end,”
But one can’t be sure.
At night
As I sit
Shuffling the cards of our silence,
I say to him:
“Though you utter
Every one of my words,
You are a stranger.
It’s time you spoke.”
(Charles Simic)
It isn’t the body
That’s a stranger.
It’s someone else.
We poke the same
Ugly mug
At the world.
When I scratch
He scratches too.
There are women
Who claim to have held him.
A dog follows me about.
It might be his.
If I’m quiet, he’s quieter.
So I forget him.
Yet, as I bend down
To tie my shoelaces,
He’s standing up.
We caste a single shadow.
Whose shadow?
I’d like to say:
“He was in the beginning
And he’ll be in the end,”
But one can’t be sure.
At night
As I sit
Shuffling the cards of our silence,
I say to him:
“Though you utter
Every one of my words,
You are a stranger.
It’s time you spoke.”
(Charles Simic)
Boca de Incêndio
Si le feu brûlait ma maison, qu’emporterais-je?
J’aimerais emporter le feu...
JEAN COCTEAU
(obrigada muito ao Vasco)
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