Tongue-tingling rich fruity taste


Mais aqui
mas nenhum como este!




Lote: 1931059299
Produto: Framboesa
Variedade: Polka
Origem: Portugal
Cal: 18mm
Cat: I
125g





Oh as casas as casas as casas

 


Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações

Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas

 
Ruy Belo
Todos os Poemas
Assírio & Alvim, 2000

(fatiadora de ovos)


COMO SENTAR CORRECTAMENTE À MESA OS COMENSAIS ENFERMOS

Os convidados que sofram das mais terríveis doenças (e não me refiro à peste, mas à escrófula ou à varíola), tal como os que forem dados à perda de peso, bem como outros que exibam chagas ou feridas abertas, não devem ser sentados em lugares próximos do senhor Ludovico, meu Amo (a menos que sejam filhos de Papas ou sobrinhos de Altos Cardeais), mas a sua companhia é tolerável para outros de classes inferior e para dignatários estrangeiros, entre os quais podem tomar assento.

Relativamente aos que sofram ataques de soluços, aos que funguem constantemente, aos que padeçam de tremores e espasmos ou de alucinações, o meu Amo prefere que se sentem longe dele (a menos que sejam filhos de Papas ou sobrinhos de Altos Cardeais importantes) porque, com eles, a conversa corre o risco de ser aborrecida. Pela mesma razão, não é conveniente que estas pessoas fiquem ao lado umas das outras, mas entre elas deve colocar-se o "fermento" constituído por membros menores da corte. Todavia, os convidados furunculosos, os anões, os corcundas e os coxos, bem como os que não se possam deslocar por sua própria vontade e que tenham de ser levados até à mesa, tal como os que tenham cabeças inchadas ou mirradas, encontram aceitação por parte do Amo e são bem recebidos a seu lado.

Consideremos, então, os pestilentos. Estes devem tomar assento afastados dos restantes, sendo posta mesa para eles à vista do meu Amo (mas não em contacto com ele), feita de madeira menos nobre, porque logo será queimada, bem como serão destruídos todos os utensílios com que comerem; todo o pessoal que os sirva é dispensado das suas funções durante trinta dias; e se, passado esses tempo, estão bem de saúde, são readmitidos; no caso de estarem contaminados, no entanto, serão imediatamente despedidos, para bem de todos os restantes.

in "Notas de Cozinha" de Leonardo da Vinci (Codex Romanoff)




Lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

Mário Cesariny,

in "Pena Capital"

pois é...




relembrado aqui




RITMO DA PINTURA ‘BEWEGUNG’
BASEADA NUM POEMA DE HERBERTO

para a Sandra Filipe

Quem lê a paisagem
Rubra e branca e negra
Descobre a vibração das letras
Na força que as conduz
Com as cores certas
A muitos sentidos abertas:
Para abraçar toda a luz
Que no branco ilumina e se prolonga
Para inscrever no crepúsculo
O negro manto da noite
“franjada de infinito”.
O ouro é o olhar
As “lantejoulas rápidas”
E ocultas, o coração de tudo.
Nenhum barco nem pássaro:
O espaço é percorrido
Por passos sem rasto visível.
E no entanto é terra
E água e luz e fogo.



Maria Teresa Dias Furtado
Lisboa, 2003-02-12


Quem está distante sempre nos causa maior impressão

Charlie Chaplin

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