(...)

Os amigos chamam-se nos ecos matinais

nos bueiros em que morrem os confetis

nos côncavos dos chapéus jograis



no céu da boca dum mudo que berra



Miguel Martins





Eu vi a luz em um país perdido.

Camilo Pessanha


" E quando agora levantar os olhos deste livro,

nada será estranho, tudo grande.

Aí fora existe o que vivo dentro de mim

e aqui e mais além nada tem fronteiras;

quando o meu olhar se adapta às coisas

e à grave simplicidade das multidões,-

então a terra cresce acima de si mesma.

E parece que abarca todo o céu:


A PRIMEIRA ESTRELA É COMO A ÚLTIMA CASA."


Der lesende, O homem que lê

Rainer Maria Rilke




Põe a boca contra como estremeço, tenho medo e alegria, e não sei que terrível glória é a minha.
Talvez seja a beleza, ou a ciência, ou uma nova maneira de não saber .
Quero que sejas o álamo correndo na chuva, entrando na noite ao pé do que ainda não sei.
Como é o teu corpo debaixo das constelações, como é o que dizes ?

Herberto Helder




El amor es este viaje inútil, pero muy suave,
el otro lado del espejo.
Tantas criaturas en mi sed y en mi vaso vacío.
Alejandra Pizarnik

VERÃO


Que onda redonda eu era para ele quando, fagueiro, o desejo nos levava ao lume de água e à flor da pele, pelo tempo que mais tempo desdobrava!


Alexandre O'Neill


ISTO É UM CÉU ?

Rainer Maria Rilke

É apenas um pequeno buraco no meu peito mas sopra nele um vento terrível.
Henri Michaux





A doença e a morte relativamente próxima salvar-me-ão da repetição monótona dos mesmos gestos.

Marguerite Yourcenar




Eu sou o que digo
E o que oculto
Eu sou um sonho impossível
E o pesadelo que sufoca
Eu sou a sombra
E a recordação.

............


Abre-se o leque solar
E um pincel afaga
A tela da vida
Em movimentos muito lentos
Esbate-se a distância
Nascem memórias
E o olhar docemente
Afaga essa pintura
Este meu destino.


Henrique Risques Pereira


Árida, a minha vida continua. Mas não regresso a mim. O meu corpo permanece no teu corpo delicioso e dentro do meu peito há plumas que se agitam ao vento da distância e me fazem sofrer.
A que já não é, exige, e a sua ausência absorvente devora-me e invade-me.

Henri Michaux, Nós dois ainda





VIVE AS VIDAS, UMA A UMA,
sem os sonhos confundir;
eu vou para baixo, para cima,
sou outro, sem ser.








E afinal
existe em todos nós o mesmo Deus, feio-
belo, e verdadeiro.
PAUL CELAN, in A morte é uma flor