" a primeira tempestade foi o primeiro dia de amor
milhões de flores de milhões de cores
subindo e descendo velhas escadas
em milhões de camas como a tua.
Os automóveis passando as mãos nas tuas pernas
perto a abóbada há milhões de séculos escondida
o poeta pendurado com um alfinete
na fachada da casa
nós lado a lado deitados
procurando-nos..."

(...)
e aí ficar a contar pelos dedos eternamente
a tua estatura
a cor da tua presença
o que dizem as pestanas com o seu curso completo de arte dramática

o que ouve a tua boca
o que dizem os teus ouvidos entre infinitas extensões de areia
as tuas faces
o gesto de resolveres dar-me a tua mão
de afastares os véus para sair um pouco da luz eterna
de abrires o teu peito
no capítulo que conduz para além do sexo
e onde um beijo em tamanho natural existe
antes da parede onde alguém há milhões de anos escreveu
junto da grande escada
apenas a palavra "AMOR"
e isso foi o começo deste caminho onde nos encontrámos
o primeiro passo irresistível da estátua
com a sua armadura de plumas e cornos
para combater o eco que vem do outro lado do horizonte
Meu amor tão distante
somos nós a estrada por onde passa triunfal
o carro triunfal
em que radiosos seguimos lado a lado
mais eternos e exaustos que o último homem
com uma só coroa de amor e de ódio unindo as nossas cabeças
que cobre a imagem de um Deus
em três pessoas
- animal, vegetal e mineral.

(Cruzeiro Seixas, por Mário Cesariny)

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