Num percurso de ida e volta devem entrar em três buracos dispostos em linha recta, saindo vencedora a criança que chegar primeiro ao buraco inicial. (Edição Revista e Aumentada)
Homem para Deus
Ele vai só ele não tem ninguém
onde morrer um pouco toda a morte que o espera
Se é ele o portador do grande coração
e sabe abrir o seio como a terra
temei não partam dele as grandes negações
Que há de comum entre ele e quem na juventude foi
que mão estendem eles um ao outro
por sobre tanta morte que nos dias veio?
E no seu coração que todo o homem ri e sofre
é lá que as estações recolhem findo o fogo
onde aquecer as mãos durante a tentação
é lá que no seu tempo tudo nasce ou morre
Não leva mais de seu que esse pequeno orgulho
de saber que decerto qualquer coisa acabará
quando partir um dia para não voltar
e que então finalmente uma atitude sua há-de implicar
embora diminuta uma qualquer consequência
O que deus terá visto nele para morrer por ele?
Oh que responsabilidade a sua
Que não dê como a árvore sobre a vida simples sombra
que faça mais do que crescer e ir perdendo vestes
Oh que difícil não é criar um homem para deus
Ruy Belo
Abriu no colchão as valas possíveis
e enterrou por ordem alfabética
cada parte do corpo: os pêlos
os pântanos as unhas encravadas
e as unhas que outros cravaram pelas coxas.
Estudou cuidadosamente as ondas as horas
para que não restassem dúvidas
sobre os caminhos marítimos
para a noite. Por fim
podou todas as janelas do quarto;
bebeu o vinho;
roeu a carne do quarto
até não sobrar nenhum coração.
Catarina Nunes de Almeida
O VENDEDOR DE ROSAS
Solitário e furtivo, o homem do ramo
anda por locais nocturnos à procura de casais.
Encontrei-o nas ruas ao pé da Rambla
com umas rosas sem cheiro a rosas
numa noite que não tem cheiro a noite.
E perdi-me pelas traseiras da vida.
Uma mulher na sombra que não és tu
roubou-te os olhos e chora. A cidade
é uma exacta e monstruosa cópia.
Como se o Cúpido já estivesse velho,
passa cuspindo o vendedor de rosas.
Enquanto se afasta penso: ao teu amor
não lhe perdoes nada. Nem o seu final.
Joan Margarit
(Roubado aqui como tantas outras coisas. Obrigada.)
entre os meus dedos
desfaz-se um tecido antigo
muito antigo
e no ar
o cheiro adocicado
de terras distantes
um coração
bate descompassado
neste deserto sedento
sem vida a perder de vista
onde estão as ilusões?
...se a vida é feita de sonhos
onde estão os sonhos?
...já não há ninguém que saiba o teu nome
sou uma imagem esbatida
no fundo de mim.
Henrique Risques-Pereira
desfaz-se um tecido antigo
muito antigo
e no ar
o cheiro adocicado
de terras distantes
um coração
bate descompassado
neste deserto sedento
sem vida a perder de vista
onde estão as ilusões?
...se a vida é feita de sonhos
onde estão os sonhos?
...já não há ninguém que saiba o teu nome
sou uma imagem esbatida
no fundo de mim.
Henrique Risques-Pereira
EU VI O REI PASSAR
Um rei assim
não ouve muito bem
e adora luz;
sem ver ninguém
prefere olhar
o horizonte, o céu:
longe daqui
é tudo seu.
Seu sangue azul
ninguém diz de onde vem
de que sertão
que mar, que além;
e para nós
ele jamais se abriu
senão uma vez
depois partiu.
Um rei assim
cultiva a solidão
sombria flor
no coração
e claro é
que o pêndulo do amor
às vezes vai
até a dor
Devo dizer
que não sofri demais
Devo dizer
Devo dizer
que acordei
Mesmo sem ser
tudo que imaginei
devo dizer
que o amei.
António Cícero
"There are no 'good' or 'bad' people. Some are a little better or a little worse but all are activated more by misunderstanding than malice.
A blindness to what is going on in each other's hearts....
Nobody sees anybody truly but all through the flaws of their own egos. That is the way we all see each other in life."
(Tennessee Williams in Elia Kazan's autobiography A Life, 1988)
A blindness to what is going on in each other's hearts....
Nobody sees anybody truly but all through the flaws of their own egos. That is the way we all see each other in life."
(Tennessee Williams in Elia Kazan's autobiography A Life, 1988)
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