VENERAÇÃO

Venerei-te quase sempre,
sem querer, sem saber, apenas como quem
cumpre um destino
perante o sangue e as rosas.
Foste, talvez,
essa flor inquieta, tempestuosa, inimiga da
sombra e da calma,
foste uma espada de fogo, ardendo sobre
os altares, onde se sentou o anjo caído.

Mil sóis passaram, mil amantes, mil jogos
inocentes,
e agora os teus ombros não podem suportar o
peso do mundo.
Desaparecerás como as árvores, as flores e as
casas.
Não sei para onde vais.
Procuro-te na décima porta, junto aos
umbrais,
junto às noites acesas do outro lado do céu.


JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA
Agora e na hora da nossa morte
Assírio & Alvim, 1998

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