A Função do Amor é Fabricar Desconhecimento


a função do amor é fabricar desconhecimento


(o conhecido não tem desejo; mas todo o amor é desejar)
embora se viva às avessas,o idêntico sufoque o uno
a verdade se confunda com o facto,os peixes se gabem de pescar


e os homens sejam apanhados pelos vermes(o amor pode não se
importar
se o tempo troteia,a luz declina,os limites vergam
nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela
—o medo tem morte menor;e viverá menos quando a morte acabar)


que afortunados são os amantes(cujos seres se submetem
ao que esteja para ser descoberto)
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver


(que riem e choram)que sonham,criam e matam
enquanto o todo se move;e cada parte permanece quieta:




pode não ser sempre assim;e eu digo
que se os teus lábios,que amei,tocarem
os de outro,e os teus ternos fortes dedos aprisionarem
o seu coração,como o meu não há muito tempo;
se no rosto de outro o teu doce cabelo repousar
naquele silêncio que conheço,ou naquelas
grandiosas contorcidas palavras que,dizendo demasiado,
permanecem desamparadamente diante do espírito ausente;


se assim for,eu digo se assim for—
tu do meu coração,manda-me um recado;
para que possa ir até ele,e tomar as suas mãos,
dizendo,Aceita toda a felicidade de mim.
E então voltarei o rosto,e ouvirei um pássaro
cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.


E. E. Cummings, in "livrodepoemas"

1 comentário:

  1. O meu recado é que gostei muito destes dois últimos.

    Beijo montemorense

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