Num percurso de ida e volta devem entrar em três buracos dispostos em linha recta, saindo vencedora a criança que chegar primeiro ao buraco inicial. (Edição Revista e Aumentada)
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Fica dentro de mim, como se fosse
Eterno o movimento do teu corpo,
E na carne rasgada ainda pudesse
A noite escura iluminar-te o rosto.
No suor é que adivinho o rastro
das palavras de amor que não disseste,
e no teu dorso nu escrevo verso
em pura solidão acontecido.
Transformo-me nas coisas que tocaste,
Crescem-me seios com que te alimente
O coração demente e mal fingido;
Depois serei a forma que deixaste
Gravada a lume com o sabor a cio
Na carícia de um desto fugidio.
António Franco Alexandre
Fica dentro de mim, como se fosse
Eterno o movimento do teu corpo,
E na carne rasgada ainda pudesse
A noite escura iluminar-te o rosto.
No suor é que adivinho o rastro
das palavras de amor que não disseste,
e no teu dorso nu escrevo verso
em pura solidão acontecido.
Transformo-me nas coisas que tocaste,
Crescem-me seios com que te alimente
O coração demente e mal fingido;
Depois serei a forma que deixaste
Gravada a lume com o sabor a cio
Na carícia de um desto fugidio.
António Franco Alexandre
às pessoas saudáveis faço o seguinte apelo: não teimem em ler apenas esses livros saudáveis, travem um conhecimento mais estreito, também com a literatura dita doentia, que vos transmitirá decerto, uma cultura edificante. As pessoas saudáveis deviam sempre expor-se um pouco ao perigo. Senão, com mil raios, para que serve ser saudável?
robert walser
One cigarette
No smoke without you, my fire.
After you left,
your cigarette glowed on in my ashtray
and sent up a long thread of such quiet grey
I smiled to wonder who would believe its signal
of so much love. One cigarette
in the non-smoker's tray.
As the last spire
trembles up, a sudden draught
blows it winding into my face.
Is it smell, is it taste
You are here again, and I am drunk on your tobacco lips.
Out with the light.
Let the smoke lie back in the dark.
Till I hear the very ash
sigh down among the flowers of brass
I'll breathe, and long past midnight, your last kiss.
Edwin Morgan
(roubado aqui )
No smoke without you, my fire.
After you left,
your cigarette glowed on in my ashtray
and sent up a long thread of such quiet grey
I smiled to wonder who would believe its signal
of so much love. One cigarette
in the non-smoker's tray.
As the last spire
trembles up, a sudden draught
blows it winding into my face.
Is it smell, is it taste
You are here again, and I am drunk on your tobacco lips.
Out with the light.
Let the smoke lie back in the dark.
Till I hear the very ash
sigh down among the flowers of brass
I'll breathe, and long past midnight, your last kiss.
Edwin Morgan
(roubado aqui )
ERRATA
Onde se lê Deus deve ler-se morte.
Onde se lê poesia deve ler-se nada.
Onde se lê literatura deve ler-se o quê?
Onde se lê eu deve ler-se morte.
Onde se lê amor deve ler-se Inês.
Onde se lê gato deve ler-se Barnabé.
Onde se lê amizade deve ler-se amizade.
Onde se lê taberna deve ler-se salvação.
Onde se lê taberna deve ler-se perdição.
Onde se lê mundo deve ler-se tirem-me daqui.
Onde se lê Manuel de Freitas deve ser
com certeza um sítio muito triste.
Manuel de Freitas
Último ...---...
Que te protejam, na noite separada,
as mais frias certezas e a boca da catástrofe
que não beijou nem quis o poema inacabável.
Manuel de Freitas
...---...
(...)
Pássaros que nunca vira
insistiram em acompanhar-nos,
pela estrada de areia breve
onde tantas vezes caí de bicicleta.
Quase gostei de estar vivo -
vivo, ao teu lado, naquela manhã de Março.
Manuel de Freitas
...---...
(...)
o grito comum que viemos suspender aqui
a questão no fundo é apenas esta: há momentos
em que a vida nos parece quase bela,
escolhos onde embatem as mais íntimas certezas.
talvez adormeçamos lado a lado ,
de costas para a morte, e haja corsários ao fundo,
um mar de gelo protegendo-nos da noite.
Manuel de Freitas
Marco Miliário
(autor desconhecido)
não paga nenhum.
Vós sois pela liberdade da arte,
do ser humano
falais apenas sob
este
signo.
E afinal
existe em todos nós
o mesmo Deus,feio-
-belo,
verdadeiro.
PAUL CELAN , 4/11/1961
Quartos nada escuros
Regressei este ano ao Lago Balaton, na Hungria, uma enorme massa de água que os romanos tinham por bem nomear Lacus Pelso e o tedesco idioma ainda hoje chama Plattensee. Fui convidado para um maravilhoso passeio de barco à vela, numa embarcação de nome Sonho ("Alöm", em húngaro). Acabou por não dar mau resultado ter começado a ingerir bebidas alcoólicas tão cedo. Logo pelas onze da manhã começaram a oferecer-me copinhos de vodka com cerveja fria a acompanhar. Perguntei-me a mim próprio se aquele seria o habitual ritual preparativo para os passeios de barco no maior lago da Europa Central. Aceitei tudo, como é evidente. Nestas coisas de copos com estrangeiros um gajo tem de perceber que está sempre em parte a representar o seu país. Está sempre em jogo o prestígio de uma nação. A tarde haveria de reservar ainda uns bons espumantes acompanhados dessa tão simples e deliciosa invenção chamada uísque-cola. Banhámo-nos, sim. Banhámo-nos muito no lago. E eu vim para casa com um escaldão.
Aqui na Hungria, como no mundo inteiro, o Verão cobra sempre a sua factura de banhistas. O Verão de águas várias, o Verão de praias, de lagos, de rios reluzentes, logra sempre matar a sua fome de corpos humanos, que é só para lembrar a gente como nada na vida é inteiramente perfeito, tal como nada é de igual modo absolutamente trágico e sombrio. Em Portugal morre sempre um punhado de pessoas nas primeiras semanas de Estio intenso. No Balaton, sobrevêm repentinas tempestades e há malta que não consegue mais alcançar margem, que se cansa, que desmaia com a tóxica espuma que se forma à superfície. A combinação de recreio estival com morte por afogamento é sem dúvida uma curiosa e particularmente cruel invenção da natureza. Fica portanto aqui o aviso aos corpos. É essencial não facilitar quando se trata de mergulhos e braçadas em lugares aprazíveis. O Verão às vezes não perdoa.Publicada por João Miguel Henriques
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