não se fica a viver na boca de quem nomeia o silêncio
jesús jiménez domínguez

também temos saudade do que não existiu,
e dói bastante

carlos drummond de andrade
cada passo um labirinto
jesús jiménez domínguez

TINTA POR UMA LINHA (6)



no entanto o nosso apetite não é deste mundo
jesús jiménez domínguez

TUDO ASSIM LENTO, CONFIRMADO PELA RESPIRAÇÃO
Vasco Gato



Alphaville,
Jean Luc-Godard

Revival











e dormir ligado a ti
por uma corda de sangue

antónio barahona


'e por falar em paixão em razão de viver?'

um clássico


Quando aqui não estás
o que nos rodeou põe-se a morrer

a janela que abre para o mar
continua fechada só nos sonhos
me ergo
abro-a
deixo a frescura e a força da manhã
escorrerem pelos dedos prisioneiros
da tristeza
acordo
para a cegante claridade das ondas

um rosto desenvolve-se nítido
além
rasando o sal da imensa ausência
uma voz

quero morrer
com uma overdose de beleza

e num sussurro o corpo apaziguado
perscruta esse coração
esse
solitário caçador

Al berto

 (red williamson)

TINTA POR UMA LINHA (5)


se eu me concentrar num fragmento do tempo
não é hoje, nem amanhã
mas se eu me concentrar num fragmento do tempo,
agora,
esse fragmento revelará todo o tempo.

maria gabriela llansol


...afraid of the light in the dark...

TINTA POR UMA LINHA (4)



isto era o destino:
chegar à margem e ter medo da quietude da água.
(antonio gamoneda)

'i'll see you when i see you'


O tempo respeita o que se faz com tempo
Auguste Rodin

Balancé



Envelhece-se mais devagar ao anoitecer. A morte enrosca-se, faz uma trégua até que de novo amanheça.
Sou um homem nocturno, a luz do dia aumenta o conhecimento da minha escassa eternidade.


Malcolm Lowry

(céu, Setembro 2010)


Não sei, deixo rolar. Vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração, eu sigo.
Caio Fernando Abreu


TINTA POR UMA LINHA (3)




A ESPÉCIE HUMANA NÃO SUPORTA DEMASIADA REALIDADE

T.S. Elliot
No language is the mother tongue. Writing poetry is rewriting it…. A poet may write in French; he cannot be a French poet. That’s ludicrous…. The reason one becomes a poet…is to avoid being French, Russian, etc., in order to be everything…. Yet every language has something that belongs to it alone, that is it…. French: clock without resonance; German—more resonance than clock…. French is there. German becomes, French is.

Marina Tsvetayeva

Da Não Procriação


I.

'Pai! Diz a verdade!'
 rapaz na fila do supermercado, 6/7 anos

II.

'Que fruto é este? - pergunta um pequenito apontando para uma montra outonal (uma natureza semi-morta, que, morreria por completo com a resposta do pai):
' Txiii! Não faço ideia'  - disse o mesmo pai, olhando a romã com estranheza.
O pequenito seguiu, sem qualquer espécie de hipótese (e) de futuro.

Mas ainda não sabe.

rapaz na rua, 4/5 anos

III.

'Gostas do Pai?'
'Lamento, mas não.'
 rapaz ao colo, 3 anos


(...) contemplo de soslaio, enquanto escrevo, o Tejo
e não sei de que maneira
o amor devia começar.

António Barahona

MORRE-SE DE VER A NOSSA  CARA NO ESPELHO (hh)

OVER THE FRIDGE



    For last year’s words belong to last year’s language
    And next year’s words await another voice,

T. S. Eliot,  Four Quartets

The experience of silence



Tudo na música me encanta. Excepto o som.
Miguel Martins

Tinta por uma Linha (2)




'Aschenbach notava com surpresa um estranho alargamento no seu interior, uma espécie de inquietação dispersa. uma sedenta ânsia juvenil de distância - um sentimento tão vivo, tão novo ou antes há tanto desacostumado e esquecido que ficou imóvel (...)
Era um desejo de viajar, nada mais, porém, emergindo nele na forma de um acesso elevado à paixão ou mesmo à alucinação
(...)
A insaciabilidade, essência e natureza mais profunda do talento, fora já na juventude uma característica sua, e em função dela educara e temperara a sensibilidade, sabendo que todo o talento se deve contentar com o alegre acaso e uma perfeição incompleta.'

A Morte em Veneza,
 Thomas Mann

2012 series - TINTA POR UMA LINHA




O MEU ERRO

O meu erro é um rastro fundo no deserto
traçado com o ceptro, a tinta azul bem forte
e sem perder de vista o infinito ignoto,
em permanente risco de ganhar a morte.

O meu erro é um rasgo rubro de furor,
aberto largo num lençol de fresco linho,
a noite toda ígnea a conceber amor,
até sair do fogo um cavalo marinho.

O meu erro é um rito de beleza,
recortado a rigor em som agreste,
plo gume duma faca, com firmeza
e oração cortante aos Pés do Mestre.

António Barahona
 


“I'm incapable of passing by an oasis without stopping to drink.” 
Otto Gross (Vincent Cassel),
in A Dangerous Method,
David Cronenberg

'i've been loving you too long' em qualquer versão



'Les temps sont durs pour les rêveurs.'
 in Le fabuleux destin d'Amélie Poulain

foto fabulosa aqui

esta vida não se tornou a minha vida

Unica Zürn