Madonna das Flores Nocturnas



Trabalhei o dia inteiro.
Agora estou cansada.
Grito: "Onde estás?"

Mas há apenas o sussurro dos robles ao vento.
A casa está muito sossegada,
O sol brilha nos teus livros.
Na tesoura e no dedal que acabas de pousar,
Mas não te vejo.
Subitamente acho-me só:
Onde estás?
Lanço-me à tua procura.

Então, encontro-te,Parada sob uma espiral de delfínio azul pálido,
Com um cesto de rosas pelo braço.
Fresca, como prata,
Sorris.
Imagino os sinos de Cantuária tocando melodias.

Dizes-me que as peónias precisam de ser borrifadas,
Que as colubrinas invadiram tudo,
Que a pyrus japónica devia ser podada.
Dizes-me tudo isto.
Mas olho-te, coração de prata,
Argêntea chama reluzente,

Ardendo sob as hastes azuis do delfínio,,
E há um desejo súbito de ajoelhar-me a teus pés,
Enquanto à nossa volta ressoam fortes e doces os Te Deums dos sinos de Cantuária.

Amy Lowell
(trad. Miguel Martins,
Telhados de Vidro  /14, Averno,
Setembro de 2010)

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