Fios
Aproveitam a teia recurva dos cabelos para se fixarem, são fios mais estreitos que se ligam em ilhas que o emaranhado dos cabelos prende. Pequenas fibras que o atrito separou das roupas e cobertores e a aragem juntou em novelos que o tempo vagaroso engrossa. Entre eles o pó, mais estreito ainda, corpo tão breve que o demora. São ilhas frágeis, o movimento que as formou dispersa-as. São ilhas eternas, sempre outro movimento as renova em algum tempo e lugar. Prendes entre os dedos o novelo que apanhaste do chão. Mais vasto do que tu, mais vasto do que o tempo que te foi dado, nele te fita o vazio sobre o qual te ergues olhar. Olha-o de frente, nada temas. O teu fim igualará o princípio. Tudo será como antes este rosto que é de ninguém.
Jorge Roque, in Broto Sofro
Averno, 2008
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