RETRATO



Uma demora lenta nas palavras


um calor bom na palma das mãos


uma maneira de gostar das pessoas e das coisas


sem tolher movimentos ou forçar as superfícies


beber aos golinhos o café a ferver


ou o whisky chocalhado com pedrinhas de gelo


viver viver roçando as coisas ao de leve


sem poupar o veludo das mãos e do corpo


sem regatear o amor à flor da pele


olhar em torno de si perdida ou esperar o verão


e saber de um saber obscuro que o calor


todo o calor é de mais dentro que vem



RUI CAEIRO

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