Num percurso de ida e volta devem entrar em três buracos dispostos em linha recta, saindo vencedora a criança que chegar primeiro ao buraco inicial. (Edição Revista e Aumentada)
AMOR BASTANTE
quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você
caminhando junto
PAULO LEMINSKI
La vie en close, 1991
Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não trai o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o
[olhar extático da aurora.
Vinicius de Moraes, in 'Antologia Poética'
Gertrude Stein (Sacred Emily, 1913)
“When asked what she meant by ‘a rose is a rose is a rose’, a line she first used in slightly different form in the poem ‘Sacred Emily’, she explained that in the time of Homer, or even of Chaucer, when the language was still new, ‘the poet could use the name of a thing and the thing was really there’. But through overuse and overfamiliarity, names lost their identities, which she was trying to recover. She boasted, ‘I think in that line the rose is red for the first time in English poetry for a hundred years’. (‘Lecture at Chicago’)
(...) In ‘Poetry and Grammar’, she explains that she was trying to re-create things by calling ‘them by their names with passion’ and ‘struggled desperately’ to avoid ‘nouns as nouns’ - as sterile and debased signifiers.”
in THE NORTON ANTHOLOGY OF MODERN AND CONTEMPORARY POETRY, Vol 1, Modern Poetry
ed. Jahan Ramazani, Richard Ellmann, Robert O’Clair – (p. 177, 3th edition)
Transforma-se o amador na cousa amada Por virtude do muito imaginar; Não tenho logo mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar? Em si sómente pode descansar, Pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, Que, como o acidente em seu sujeito, Assim co'a alma minha se conforma, Está no pensamento como ideia; [E] o vivo e puro amor de que sou feito, Como matéria simples busca a forma. Luís de Camões
A vida tarda
enquanto esta demonstração democrática do Demo
se demora entre ademanes e esgares,
como se tudo não passasse de uma farsa
velha e medíocre,
levada à cena, em sessões contínuas,
desde que uma salamandra se fez gente,
gente escondida
com o rabo de fora.
Resta-nos correr no sentido inverso
aos ponteiros do relógio e procurar,
inglórios, o pântano primordial
e, nele, nossos recantos de calor estagnado,
passar a borracha da noite sobre o carvão do vento,
correndo o risco de tudo esborratar,
e ter esperança ou, pelo menos, fé
nas propriedades curativas das folhas brancas.
Imaginem comigo:
o branco mais profundo
sugando-nos para dentro de si
como o olho de um furacão,
olho terrível e encantador
de répteis.
Antes de mergulhar, permitam-me apenas
um cálice de licor de ervas amargas
e o clangor lânguido de um oboé tibetano.
E depois - só depois - o abismo imenso,
antediluviano,
da nossa morte inteira e sem mentiras,
sem conta-gotas a dosearem tudo,
até a beira-mar
e até o medo.
Miguel Martins, aqui
The Longing for Happiness finds Satisfaction in Art,
Gustav Klimt
HAPPINESS
So early it's still almost dark out.
I'm near the window with coffee,
and the usual early morning stuff
that passes for thought.
When I see the boy and his friend
walking up the road
to deliver the newspaper.
They wear caps and sweaters,
and one boy has a bag over his shoulder.
They are so happy
they aren't saying anything, these boys.
I think if they could, they would take
each other's arm.
It's early in the morning,
and they are doing this thing together.
They come on, slowly.
The sky is taking on light,
though the moon still hangs pale over the water.
Such beauty that for a minute
death and ambition, even love,
doesn't enter into this.
Happiness. It comes on
unexpectedly. And goes beyond, really,
any early morning talk about it.
Raymond Carver
Quantos artistas entoam baladas pras suas amadas
Com grandes orquestras
Como os invejo
Como os admiro
Eu, que te vejo e nem quase suspiro
Quantos poetas românticos, prosas
Exaltam suas musas com todas as letras
Eu te murmuro
Eu te suspiro
Eu, que soletro teu nome no escuro
Me escutas, Cecília?
Mas eu te chamava em silêncio
Na tua presença palavras são brutas
Pode ser que, entreabertos
Meus lábios de leve tremessem por ti
Mas nem as sutis melodias
Merecem, Cecília, teu nome espalhar por aí
Como tantos poetas
Tantos cantores
Tantas Cecílias com mil refletores
Eu, que não digo, mas ardo de desejo
Te olho
Te guardo
Te sigo
Te vejo dormir
Me escutas, Cecília?
Mas eu te chamava em silêncio
Na tua presença palavras são brutas
Pode ser que, entreabertos
Meus lábios de leve tremessem por ti
Mas nem as sutis melodias
Merecem, Cecília, teu nome espalhar por aí
Como tantos poetas
Tantos cantores
Tantas Cecílias com mil refletores
Eu, que não digo, mas ardo de desejo
Te olho Te guardo Te sigo Te vejo
Te olho Te guardo Te sigo Te vejo dormir
(Luiz Claudio Ramos/ Chico Buarque)
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