Many years of life on Earth, all yours now —
Open the door, down the street, the chute, in a quick black van, accelerator
Spun under stars, sensations and the several ways they lead existence on
Eventful estuaries, gaps and swells, rooftops, rose gardens, reefs and ledges
Sites the soul well knows, needs must know more of — in ways of intimacy, say


Baffling to live, knowing more or less in time, as wild waves wipe out panic
Echoing rages form a part, to evade the darkness may be more extreme
Resolute, melodious, the stars sing out where the song insists on going
Knowing you listen, add a verse or two, to return to them the song that’s you:
Sagacious, edgy, soulful, so impressed! (And that is you: part song, part simple fact)
On your way, in love’s regard, human depth and dizzying grandeur you attain
No moment dearer than this, to cheer you living with all you know, with friends

Bill Berkson


    Conversation I , 1922
    Francis Picabia


One must go through life, be it red or blue, stark naked and accompanied by the music of a subtle fisherman, prepared at all times for a celebration.

Francis Picabia



Barefoot

We took off our shoes
In the middle of the hot city.
And we looked so loose,
Like newborn and pretty.
With the same speed, if we could
Free our thoughts for a while
From their heavy boots —
It would be easier, mile after mile,
To leap barefoot into childhood.

 
Abraham Sutzkever








The Laughing Heart

your life is your life.
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous.
the gods wait to delight
in you.

Charles Bukowski



Há-de uma grande estrela cair no meu colo...
A noite será de vigília,

E rezaremos em línguas
Entalhadas como harpas.

Será noite de reconciliação --
Há tanto Deus a derramar-se em nós.

Crianças são os nossos corações,
anseiam pela paz, doces-cansados.

E nossos lábios desejam beijar-se --
Porque hesitas?

Não faz meu coração fronteira com o teu?
O teu sangue não pára de dar cor às minhas faces.

Será noite de reconciliação,
Se nos dermos, a morte não virá.

Há-de uma grande estrela cair no meu colo.


Else Lasker-Schüler
Baladas Hebraicas






A noite - enorme 
tudo dorme menos teu nome.

(Paulo Leminsky)


Chaves







Queremos a presença das coisas. É tão simples, isto: queremos as coisas próximas, íntimas, como as peças de roupa pousadas na cadeira ao nosso lado. Próximo e íntimo, desse mesmo modo, o que nos pertence ainda mais de perto: a evidência viva do mundo. E toda inteira, já agora. Queremos aberta a porta do ser - que há-de ter certamente uma porta. Vendo bem, porque não haveria essa porta? Há, em certos dias, em certos lugares do mundo, uma tão certa harmonia entre a temperatura do corpo e a do ar que quase se perde a noção de entre uma coisa e outra ser a pele uma fronteira.
O ar parece então levemente texturado, suave como algodão em rama. Dir-se-ia que o trazemos vestido. É qualquer coisa como isto, o que queremos. Algo de que esse envolvimento fosse a imagem ou - melhor ainda - simplesmente um caso muito concreto. 


Rosa Maria Martelo



-Se ao menos pudéssemos dormir, dormir bem sem ter calor nem frio, dormir com aquele aniquilamento das noites de grande cansaço, dormir sem sonhos.
- Porquê sem sonhos? - perguntou o vizinho
- Porque os sonhos nem sempre são agradáveis e são estranho e inverosímeis, sem nexo, e porque a dormir, nem sequer podemos saborear os melhores a nosso bel-prazer.
É preciso sonhar acordado.



in Sonhos, Contos do Insólito
Guy de Maupassant



Envelhece-se mais devagar ao anoitecer.
A morte enrosca-se, faz uma trégua até que de novo amanheça.
Sou um homem nocturno, a luz do dia aumenta o conhecimento da minha escassa eternidade.

Malcolm Lowry




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DISPONIBILIDADE


Vem ver a vida
passar silenciosamente
como a ave no ar claro.


Vê-a que desce. Prende-a.
Nas tuas mãos em concha
fica um instante.


Deixa-a fugir. Outras há.


RUY CINATTI





Uma a uma, as coisas do mundo, as noites desarrumadas,
 as mãos que as arrumam
entre chama e sono

.

Feridas que abrem.
reabrem, cose-as a noite, recose-as
com linha incandescente.

.

Quando não há palavra que se diga e apenas uma imagem
mostre em cima
os trabalhos e os dias submarinos.

.


Herberto Helder , Última Ciência


A UM POETA

Trata bem o bébé da casa, mil
cuidados deves ter com essa válvula,

o louco mecanismo que respira
perigoso na cama do teu cérebro:

a síndroma da noite e da raposa
- o teu bébé, a imaginação.

José António Almeida





Esta imaginação de sal e duna,
inquieta e movediça como a areia,
ergue, isolada, a praia, mais a espuma
que sereia nenhuma
saboreia…

Quisesses tomar tu este veleiro,
que em secreto estaleiro construí,
sem velas, sem cordame, sem madeira,
- mas branco!, e todo inteiro
para ti…

Brilha uma luz de morte sobre o porto
saído mesmo agora da memória…
Ali estarei, à tua espera, morto,
ou vivo em minha morte
transitória…

Combinado. Que eu juro não faltar!
Contrário de Tristão, renascerei,
se pressentir, aérea, sobre o mar,
a sombra singular
do barco que te dei.

David Mourão-Ferreira



PEQUENO POEMA DIDÁCTICO


O tempo é indivisível. Dize,
Qual o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore,
Contra o vento incerto e vário.

A vida é indivisível. Mesmo
A que se julga mais dispersa
E pertence a um eterno diálogo
A mais inconsequente conversa.


Todos os poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre...
Todas as horas são horas extremas!


Mario Quintana



HUMANISMOSIS

Casi nadie es bueno en estos días
Yo sí que soy heno humano
Pongo en todos mi confianza
y de pronto todos son lindos
Es que hoy la bondad hace reír
como una cosa anticuada
No tengo la culpa de ser andrajo
de puro arcaico articulado
Pero nada me llama necio
Porque todos saben que me enllanto
y nunca lloro y río al unísono

Carlos Edmundo de Ory


AMO O REPOUSO NO CORAÇÃO DO LUME

Eugénio de Andrade


Homem, nuvem, granito, onda, serpente,
A rocha, o ar, o abutre, a folha d’hera,
O mundo, os mundos, tudo o que é vivente,
Do lodo à águia, do metal à fera,
Da fera ao anjo, do covil à cruz,
Move-se tudo, existe e reverbera,
Sonhando, amando, palpitando em luz!

Guerra Junqueiro (1850-1923)

O ar parece então levemente texturado suave como algodão em rama. Dir-se-ia que o trazemos vestido. É qualquer coisa como isto, o que queremos. Algo de que esse envolvimento fosse a imagem ou - melhor ainda - simplesmente um caso muito concreto.

Rosa Maria Martelo



NÃO SEI COMO DIZER


Não sei como dizer-te que a minha voz te procura
e a atenção começa a florir,
quando sucede a noite esplêndida e casta.


Não sei o que quer dizer, quando longamente
teus pulsos se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado.


Quando, iniciado o campo,
o centeio imaturo ondula tocado pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.


Quando as folhas de melancolia arrefecem
com astros ao lado do espaço e o coração é uma semente
inventada em seu ascético escuro e em turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a minha cara ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.


Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza, dentro de mim, te procura.


Durante a primavera inteira aprendo os trevos,
a água sobrenatural, o leve e abstracto correr do espaço
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega dos meus lábios,
sinto que me falta um girassol,
uma pedra, uma ave, qualquer coisa extraordinária.


Porque não sei como dizer-te sem milagres que
dentro de mim é o sol, o fruto, a criança, a água, o leite, a mãe, o amor,
que te procuram.


Herberto Helder

 Hay un largo discurso en el silencio
No dice nada y dice cosas
que hacen pensar el aire
Ningún silencio llora ni no ríe

Las manos del poeta no son manos
Son electricidade trenzas de sangre
Ellas solas ondean y vibran
como letras monstruosas

Carlos Edmundo de Ory
Até de olhos fechados se pressente o brilho das coisas quietas, as idas e vindas, os êmbolos, a inquieta vibração de estarem vivas.

Rosa Maria Martelo
in A Porta de Duchamp, Averno 


( sugestão de quem sabe, aqui )
Bem vês: é preciso conhecer os nomes das ruas,
das cidades, das pessoas, dos países, e tudo esquecer
e relembrar de novo se queremos ser, amar
perder, reencontrar e difícil
mas aceitavelmente morrer.

Ternura é o que peço. Mas permanente, atenta,
pantufas, tépida.
Sorrisos e reverências. Histórias, cantos, murmúrios,
em que se incluam as palavras "amor" "sempre"
em que se fale de recomplicadas paixões,
de corpos frenéticos, de rosas, de primaveras. E
explico: A loucura? A fantasia?

Tudo é agora uma questão de mais ou menos
brutalidade, de maior ou menor capacidade de
matar. Impunemente - é preferível.
As acções baixam - não há dúvida.

Manuel de Castro 



EM ALGUMA CIDADE DO PENSAMENTO EU ESTAREI A AMAR-TE

Joan  Margarit