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MEMÓRIA DE JEAN COCTEAU




O amor está tão perto de ser ódio.


Não dispenso a cratera dos boémios,


onde se encontram místicos e génios


unidos ao distúrbio.






O ódio está tão perto do amor.


Não dispenso a cratera d'homens santos,


onde se encontram bons boémios bentos


bem unidos à dor.






Os extremos não se tocam: fundem-


-se até se tornarem num só traço,


muito cingido, em truculento abraço


d'infinita vertigem.






Dificuldade de ser: não mentir,


não escrever mais poemas, não falar;


apenas, ao de leve, expirar


e morrer a sorrir.






António Barahona, O Som do Sôpro,
Lisboa: Poesia Incompleta, 2011



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