Retrato
de mulher
Tem de ser à escolha.
Tem que mudar para que nada mude.
É fácil, impossível, difícil, vale a pena tentar.
Olhos tem, se necessário, ora azuis, ora cinzentos,
negros, alegres, rasos de água sem motivo.
Dorme com ele como qualquer uma, única no mundo.
Dá-lhe quatro filhos, nenhum, um.
Ingénua, mas a melhor a aconselhar.
Frágil, mas carregará o fardo.
Não tem a cabeça no lugar, mas há-de ter.
Lê Jaspers e revistas femininas, mas constrói uma ponte.
Jovem, como sempre jovem, ainda jovem.
Segura nas mãos um pardal com a asa partida,
o seu próprio dinheiro para uma viagem longa e distante,
o cutelo da carne, a compressa e um cálice de vodka.
Para onde corre assim, não estará cansada?
De maneira nenhuma, um pouco, muito, não importa.
Ou o ama, ou teima em amá-lo.
Para o bem, para o mal e por amor de Deus.
Wislawa Szymborska, in Alguns Gostam de Poesia,
Cavalo de Ferro, 2004
(trad. Elzbieta Milewska e Sérgio
das Neves)
(oferecido pela Clara, muito obrigada)
Obrigada eu, por existires poema antes de os encontrar num livro. Beijo
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