E se o vento varrer as folhas secas sem deixar
nenhuma?
Este Outono ela não guardará folhas dentro dos livros
E ele não escreverá mais poemas a falar da sua morte
E ambos serão obrigados a não sair do Verão, mesmo
no Inverno, à chuva, atrás dos vidros.


António Barahona
Noite do Meu Inverno
Lisboa, 2001


Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror

Chaplin




Conheço o Sal
Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minha mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.


Jorge de Sena


Presídio


Nem todo o corpo é carne ... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco ...?

E o ventre, inconsistente como o lodo? ...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor ... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo ...

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono ...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!


DAVID MOURÃO-FERREIRA

gentle goes the night




Changing Places. ECM 2003 . (ECM 1834)

Tord Gustavsen — Piano
Harald Johnsen — Double-bass
Jarle Vespetad — drums

Amália Rodrigues (23 Julho 1920 - 06 Outubro 1999)





Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.

Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.

Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento

este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.



Música Alain Oulman
Letra Ary dos Santos
"Com que Voz", 1968


Amo o caminho que estendes por dentro das minhas divisões.
Ignoro se um pássaro morto continua o seu voo
Se se recorda dos movimentos migratórios
E das estações.
Mas não me importo de adoecer no teu colo
De dormir ao relento entre as tuas mãos.


Daniel Faria



How many days are left
And what to spend them on?
Should I keep working
Or sit and marvel at the sky?
I think about your skin, your fragile skin
The heaven of life we're living in

Drink it in, drink it deep
I pray to life your soul to keep
Drink it in, drink it in

Pink clouds scatter
My heart beats clear
For all the hearts that I hold dear

Drink it in, drink it deep
I pray to life, your soul to keep
Drink it in, drink it in
Drink it in, drink it in
                                    
                                                                                                                   manuela pimentel


3
ao cimo do jardim no topo
de todas as hastes do jardim é
como se explodisse uma praia.
ou como se rodando sobre si mesmo
e subindo, em cima, o jardim
expirasse uma praia que se abre.
e então na mínima ondulação
dessa praia, no alto da explosão,
é um jardim terrestre que vai
começar
a aparecer. que recomeça.

manuel gusmão

No tempo em que celebro o meu aniversário o Arquivo de Cabeceira vem ao Marbles

A de Aniversário (VI)

No aniversário de uma das minhas pessoas preferidas, o meu poema de aniversário preferido:

A BIRTHDAY

My heart is like a singing bird
Whose nest is in a water'd shoot;
My heart is like an apple-tree
Whose boughs are bent with thick-set fruit;
My heart is like a rainbow shell
That paddles in a halcyon sea;
My heart is gladder than all these,
Because my love is come to me.

Raise me a daïs of silk and down;
Hang it with vair and purple dyes;
Carve it in doves and pomegranates,
And peacocks with a hundred eyes;
Work it in gold and silver grapes,
In leaves and silver fleurs-de-lys;
Because the birthday of my life
Is come, my love is come to me

Christina Rossetti (1861)


                                 [Obrigada à Inês, no coração e aqui ]

Back in Town

A vida, ao pé de mim, não é uma democracia.
A meu lado, muito menos. Não pretende a justiça,
não rebola no charco das lamas-panaceias,
satisfaz-se com pouco, momentos de silêncio
grávido de gente verdadeira. Para a mentira,
aqui, não há lugar; é como no teatro e nos romances
- fidelidade ao texto, liberdade nos gestos
com que lhe damos asas, noite a noite,
meticulosos guardiães do medo
de que alguém fuja durante o nosso sono.
A vida, ao pé de mim, é um trabalho eterno.
A meu lado, a tristeza derradeira.
Funda, para engolir todas as outras.
E Quem me abriu dois batentes na goela,
fez-me armazém de mágoas, como esgoto
do mundo desalmado do abandono.
Não trago paz; só, talvez, menos guerra
connosco, dia a dia, torturada.
Trago uma espada, é certo, de dois gumes:
um, minha cama; o outro, a minha ausência
- escolhei, para sempre, onde vos deitardes.

Miguel Martins

"MAS HÁ DÚVIDA?"

Aos Amigos

Miradouros



São 3 e 25
e nenhuma autoridade nos daria
mais de 15 anos.

José Miguel Silva

Final de Tarde




Peace of Mind
Piece of Soul
[HOJE QUE ME SINTO]




hoje que me sinto
perfeitamente morto,
seria o bom momento de romper
a membrana celeste, implacável de azul,
sair, independente, para o lugar de pensamentos
lúcidos, quase reais! mas

fico preso à gangrena, o precioso
lugar dos músculos na carne,
e a memória do prazer mistura-se ao redondo
fio do horizonte;
não estou, afinal, senão vazio de todos os corpos,
apenas alheado das maquinações e dos

encontros. Deixo ficar a paisagem como está,
quando não olho é que as árvores se iluminam por dentro.

António Franco Alexandre

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner


From the primordial soom

Out of the dim and the gloom we came
We are animals by any other name
We are animals, one unbroken chain
(...)
If tonight's the night
I'm gonna show you I ain't got no game plan
Out from under a rock
From a prehistoric sea we crawl
We are animals, animal one and all
Out from under a rock
From the prehistoric sea we came
We are animals, animals, one unbroken chain


...boy animalistic

If tonight's the night
I'm gonna show you I ain't got no game plan
If you call out tonight
And hear the call of the wild reply

You are animal, animal not so deep inside

If you call out in vein
Every one of us just the same

We are animal, dare not speak its name

If tonight's the night
I'm gonna show you I ain't got no game plan   (Primitive love for me)


ATRAVESSAR O FOGO PARA CHEGAR À ÁGUA

 




Rollercoaster

You say
Step right up, and take a ride!
but
I can't 'cause I'm too tired
from all the back and forth from this emotional roller coaster
you keep taking me on
I'm scorned but I keep coming back for more
When I hear your voice it's like a new door opening
Hoping in this go-round things will be better

I love you! I love you! I love you!
I always have and always will
but still
You find ways to see through me
When it's true see
See all the things I've done
One time I even brought flowers to your job
Sobbed on the phone while listening to your woes
But I suppose that wasn't good enough
You try to act tough and not let your true feelings show
But you know I might not be around when you are ready
Instead see things for what they are right now
You can't keep living in the past
Just because your previous relationship didn't last
That doesn't mean we can't try
I don't know why you insist on being lonely
If only you could see the future
I would treat you with the utmost respect
A perfect life we would have…

But instead you speak to me with riddles and rhymes
'cause you scared to say how you really feel
I don't understand what you are so afraid of
All I ever wanted to give you was my love
Love unconditional: without rules and regulations
They say patience is a virtue
But as time goes by my feelings for you accrue
I wish I knew then what I know now
But how can I make myself stop loving you

I'm tired
I don't want to ride
I just can't ride anymore
I know there's more out there for me
You can't be the only fish in my sea
Lord, please hear my plea
I got to break free of this magnetic hold
That he has on me

Keesha D. Fox

(recebido por mail)

wish bone



'plastic bag of memories and my heart pounding in my chest'

'been drinkin' hard with old tom waits'

'outside the dogs still loose their barks'

'take me somewhere where i can be free , well, please take me with you '

' i can ear the angels choking'

' lord knows that i've been ship wrecked
 in the heavy sea of love
i never felt so close to drownin'
still i couldn't get enough
the only thing that keeps me calm is to die everyday
reinventing yourself every morning
is the only way to carry on'



O amor é a ocasião única de amadurecer, de tomar forma,
de nos tornarmos um mundo para o ser amado.
É uma alta exigência, uma ambição sem limites, que faz daquele que ama
um eleito solicitado pelos mais vastos horizontes.

Rainer Maria Rilke

ainda há pouco



alcançarei o fim?

Post Simples


quero-te bem.

Remy Charlip

wishing strongly



O let us talk of quiet that we know

D. H. Lawrence