Desde que foste, sonho com:
ondas do mar,
pêssegos e -
máquinas do tempo.
[1922-2012]
Num percurso de ida e volta devem entrar em três buracos dispostos em linha recta, saindo vencedora a criança que chegar primeiro ao buraco inicial. (Edição Revista e Aumentada)
Poesia às Quintas
– com Miguel Martins
5ª sessão – Bar a Barraca – 15/11 - 22.30h
(entrada
livre)
Emanuel Félix foi um dos mais notáveis e
originais poetas do século XX português, infelizmente desconhecido por
muitos, até dos poucos que (por cá e no mundo) lêem poesia. Na próxima
Quinta, Miguel Martins e Rui Miguel Ribeiro darão voz a alguns dos seus poemas,
prometendo fazer o melhor que possam e saibam.
Posto este intróito, escrito com o
comedimento que a veneração impõe, passemos à palhaçada:
Mas que Rui Miguel Ribeiro é este? O
poeta dos imortais versos de “XX Dias”? O intrépido globetrotter de quem se
afirma ser o último homem vivo a ter palmilhado o istmo sicilo-tunisino com
alpercatas? O devasso e decadente boémio conhecido por “trombeiro da Areosa”,
que, ao que consta, é detentor de 5% de uma casa de meninas em Baleizão?
Sim!, ele é estes três e muitos mais! E a sua voz de sopranino abaritonado
promete despertar sensações há muito esquecidas em todas as octogenárias que
decidam assistir à leitura.
Quem não aparecer é porque acha que
literatura é as patacoadas do Chiquinho Viegas.
Até
Quinta!
|
Cidade triste entre as tristes,
Oh Baltimore!
Mal eu diria que na terra existes
Cidade dos Poetas e dos Tristes,
Com teus sinos clamando «Never-more.»
Os comboios relampagos voando,
Pela cidade de Baltimore,
Levam uns sinos que de quando em quando
Ferem os ares, o coração magoando
E os sinos clamam «Never-more, never-more».
...........................................
Baltimore, 1897.António Nobre
Transforma-se o amador na cousa amada Por virtude do muito imaginar; Não tenho logo mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar? Em si sómente pode descansar, Pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, Que, como o acidente em seu sujeito, Assim co'a alma minha se conforma, Está no pensamento como ideia; [E] o vivo e puro amor de que sou feito, Como matéria simples busca a forma. Luís de Camões
Speak not of guilt, speak not of responsibility. When the Regiment of the
Senses parades by, with music, and with banners; when the senses shiver and
shudder, it is only a fool and and an irreverent person that will keep his
distance, who will not embrace the good cause, marching towards the conquest of
pleasures and passions. All of morality’s laws – poorly understood and applied – are nil and cannot stand even for a moment, when the Regiment of the Senses parades by, with music, and with banners. Do not permit any shadowy virtue to hold you back. Do not believe that any obligation binds you. Your duty is to give in, to always give in to Desires, these most perfect creatures of the perfect gods. Your duty is to enlist as a faithful footman, with simplicity of heart, when the Regiment of the Senses parades by, with music, and with banners. Do not confine yourself at home, misleading yourself with theories of justice, with the preconceptions of reward, held by an imperfect society. Do not say, Such is my toil’s worth and such is my due to savor. Just as life is an inheritance, and you did nothing to earn it as a recompense, so should Sensual Pleasure be. Do not shut yourself at home; but keep the windows open, open wide, so as to hear the first sound of the passing of the soldiers, when the Regiment of the Senses arrives, with music, and with banners. Do not be deceived by the blasphemers who tell you that the service is dangerous and laborious. The service of sensual pleasure is a constant joy. It does exhaust you, but it exhausts you with inebriations sublime. And finally, when you collapse in the street, even then your fortune is enviable. When your funeral will pass by, the Forms to which your desires gave shape will shower lilacs and white roses upon your coffin, young Olympian Gods will bear you on their shoulders, and you will be buried in the Cemetery of the Ideal, where the mausoleums of poetry gleam conspicuously white.
C.P. Cavafy
|